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Mensagem do advogado Iruman Contreiras

01 outubro 2025

Risco à economia dos EUA fez Trump mudar sua postura sobre Lula e o Brasil; entenda

 

A estratégia de Donald Trump para o Brasil não estava funcionando. Em vez de ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro a evitar a prisão ou a ser autorizado a concorrer novamente em 2026, uma enxurrada de tarifas e sanções dos EUA estava tendo o efeito oposto — acelerando a condenação de Bolsonaro e aumentando a popularidade de seu rival, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A economia brasileira parecia lidar surpreendentemente bem com as tensões, enquanto uma série de líderes empresariais visitava a Casa Branca nas últimas semanas para alertar sobre os riscos da inflação nos EUA causada pelo café, pela carne bovina e por outros produtos.

Então, o presidente dos EUA fez o que fez em outras ocasiões: ele ouviu. E então mudou de rumo. O breve encontro de Trump com Lula na ONU, após o qual ele proclamou que eles tinham “uma excelente química”, não foi um encontro casual.

Não foi um caso de mais um presidente republicano sucumbindo impotente ao famoso charme de Lula. Foi, na verdade, um encontro orquestrado ao longo de várias semanas por uma série de atores, incluindo o enviado especial de Trump, Richard Grenell, cuja viagem secreta a Brasília no início deste mês passou despercebida até que o jornal O Estado de S.Paulo finalmente divulgou a notícia na noite de quinta-feira.

O presidente dos EUA, Donald Trump, assiste ao discurso do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU  Foto: Mark Garten / ONU

Os dois presidentes planejam conversar, por telefone ou videoconferência, nesta semana ou na próxima. Se tudo correr bem, um encontro pessoal poderá ser marcado. Autoridades nas duas capitais se perguntam nervosamente: e agora? Trump está realmente interessado em fechar um acordo com Lula? Ou isso é apenas o prelúdio para outra explosão, para Lula ser humilhado sem cerimônia, como Vladimir Zelensky ou Cyril Ramaphosa, diante dos olhos do mundo?

A resposta mais provável é que Trump quer diminuir a temperatura em relação ao Brasil, mas apenas um pouco. O presidente agora parece entender, graças a Grenell e outros, que não há um caminho realista para que Jair Bolsonaro seja autorizado a concorrer à presidência no próximo ano. Seus problemas legais são muito graves e seu apoio político em Brasília é muito fraco — uma realidade que até mesmo os bolsonaristas mais leais admitem em particular. Por outro lado, Trump nunca abandonaria a família Bolsonaro, muito menos admitiria a derrota. Especialmente em um caso em que Trump vê fortes paralelos com a chamada “caça às bruxas” que ele mesmo enfrentou nos Estados Unidos.

Um meio-termo poderia ser manter as tarifas sobre o Brasil em 50%, mas adicionar à já longa lista de produtos isentos. As sanções da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e sua esposa seriam mantidas — mas não ampliadas para incluir outros juízes e políticos, pelo menos por enquanto.
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Juntas, essas medidas ajudariam a proteger a economia dos EUA e salvariam um pouco da dignidade de ambos os lados. Mas também manteriam a pressão sobre Lula, o Congresso brasileiro e o Supremo Tribunal Federal para que mostrassem alguma clemência com Bolsonaro e seus apoiadores — reduzindo as penas de prisão, aprovando algum tipo de lei de anistia ou talvez permitindo que o ex-presidente, que está com a saúde debilitada, cumpra sua pena em prisão domiciliar.


Os diplomatas têm razão em estar nervosos: o caminho para a distensão é difícil. Ambos os presidentes acreditam sinceramente que são os defensores da democracia. Ambos ainda têm muitos assessores que os incentivam a lutar. Ambos têm temperamentos notórios. Se Lula tentar dar uma lição a Trump, ou simplesmente o irritar em uma conversa mais longa do que os “39 segundos” que Trump diz que passaram juntos na ONU, tudo pode acontecer. Enquanto isso, mesmo para um acordo tão modesto, Trump exigirá um troféu de guerra.

É altamente improvável que Lula esteja disposto a oferecer o tipo de concessões unilaterais que o Japão, a Coreia, a União Europeia e a Ucrânia fizeram, dada a forma como esse confronto deu novo fôlego a um terceiro mandato que antes parecia um tanto sem inspiração e restaurou sua reputação como uma figura importante no cenário mundial.

Enviado especial do Trump para America Latina, Richard Grenell, à esquerda; e o chanceler Mauro Viera, à direita Foto: Joyce N. Boghosian/Casa Branca / Evaristo Sá / AFP

Mas a oportunidade existe. A área mais fértil para um acordo pode estar nos minerais críticos – especificamente terras raras. O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo, atrás apenas da China, mas tem falhado em explorá-la devido à falta de capital e know-how, que os Estados Unidos estão bem posicionados para fornecer. Trump demonstrou um claro interesse em terras raras, tornando-as o eixo de seu acordo com a Ucrânia, por exemplo, enquanto Lula estaria disposto a ajudar a influenciar a legislação para atrair empresas americanas.

O Brasil também pode concordar em recuar em algumas regulamentações controversas sobre discurso digital e inteligência artificial que alarmaram as empresas de tecnologia dos EUA, ou tentar ajudar a gerenciar a crise no Haiti, uma importante fonte de emigração para os Estados Unidos. Embora todas as partes neguem, um “acordo de cavalheiros” com o Supremo Tribunal Federal poderia garantir que Bolsonaro permaneça em prisão domiciliar, poupando a todos o espetáculo humilhante de vê-lo sendo levado para a prisão algemado.

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‘Encontrei Lula e nos abraçamos. Eu gostei dele, e ele gostou de mim. Vamos nos encontrar na semana que vem’, disse Trump. Crédito: Nações Unidas/YouTube

Mesmo assim, provavelmente nunca haverá apertos de mão triunfantes no Salão Oval ou em Mar-a-Lago. É provável que algum grau de sanções, tensões e insultos continue enquanto ambos estiverem no cargo. Mas Trump se distanciaria de uma política fracassada em um país com o qual ele se importa, mas que também não é uma prioridade.

Ironicamente, Lula pode enfrentar uma reeleição mais desafiadora com Bolsonaro fora da disputa do que com ele na disputa; ele espera que um acordo impeça, ou pelo menos restrinja, as tentativas de Trump de atrapalhar a campanha do ano que vem. Pelo menos por enquanto, é possível imaginar que ambos os lados consigam o que precisam. Mesmo que isso leve mais do que 39 segundos.

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