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20 abril 2025

Conheça o cacau ‘cerimonial’, bebida consumida em festas sem álcool e em rituais de cura ancestrais


O cacau, fruta nativa da região amazônica, é um alimento cercado de misticismo desde antes da chegada dos colonizadores europeus na América Latina. Os povos que viviam no continente já usavam o fruto de sabor amargo em celebrações e rituais de purificação espiritual. A tradição chegou aos nossos dias na forma de crenças sobre seu poder de estimular o corpo, o espírito e induzir estados mentais. Mas será que a ciência confirma alguma dessas propriedades?

Nas redes sociais, não é difícil encontrar vídeos que falam dos supostos efeitos do chamado "cacau cerimonial". Neles, pessoas consumem uma bebida feita a partir da imersão de barras de cacau 100% em água quente, seja para tratamentos espirituais ou celebrações. Um dos mais conhecidos, que viralizou em 2023, o professor de ioga Pedro Belini descreve uma dessas festas: "Eu lembro que o cacau me deixou mais sensível à música, às pessoas e ao toque. Sentia meu corpo vibrar de alegria e êxtase”. Segundo o relato, o drinque sem álcool deixou a "energia lá em cima" e não causou ressaca.

O que é o cacau cerimonial?

Hoje em dia, a maior parte da produção cacaueira é destinada à fabricação do chocolate. No entanto, o costume de usar o cacau para se conectar a outros planos ainda é presente na vida de muitas pessoas. Não à toa, o nome científico do fruto, Theobroma cacao, significa "alimento dos deuses".

De acordo com a terapeuta holística Riane Amorim, que utiliza a fruta em tratamentos espirituais, o cacau cerimonial é preparado ao dissolver barras feitas a partir da semente da fruta na água. A bebida pode ser feita com diferentes temperaturas para extrair seus compostos e até com a adição de outros ingredientes, dependendo do propósito.

— Quando a gente fala de um cacau para tratamento, chamado de cacau medicina, usado em ritual cerimonial, ele deve ser feito da maneira mais simples possível, preservando as substâncias do fruto — explica. — Deve-se usar somente cacau, água morna, ou não tão quente, e pimenta caiena, no máximo pode-se acrescentar especiarias como gengibre ou canela.

Já o cacau tomado nas "festas sem álcool" pode ser feito de maneira mais elaborada, com água em temperaturas mais altas ou com mais componentes e depois conservado em um refrigerador para ser servido gelado. De acordo com a terapeuta, a versão tomada nesses encontros proporciona uma vontade de ação e movimento.

Entretanto, ela explica que receita exige um tipo selecionado de cacau. Segundo Riane, a barra usada deve ser feita com sementes produzidas de maneira orgânica, sem agrotóxicos e que passaram por processos simples.

— O cacau cerimonial tem que ser feito com a fruta que passou pelo processo de secagem, é descascada, derretida e temperada, sem nenhum outro aditivo — afirma. — É muito diferente de um pó comprado em armazém ou um empório, que vem com "100% cacau" na embalagem, mas é misturado com as outras coisas que sobraram no processo. É como comparar um milho na espiga, natural, com um salgadinho industrializado de milho — pontua.

Ela afirma ainda que a receita deve ser preferencialmente realizada com grãos que tenham sido colhidos através do sistema cabruca, método de produção cacaueira implementado no sul da Bahia que consiste na combinação de agricultura com proteção da mata.

Quais são os efeitos do cacau no nosso cérebro?

Na visão da terapeuta, o consumo de uma dose de até 25g diluídos em 250ml de água pode dar uma sensação de empoderamento e de libertação para quem toma.

— Quando você bebe o cacau, ele desliga a sua mente das amarras — afirma.

A ciência comprova alguns efeitos do fruto sobre a mente. Segundo o neurologista Rafael Ribeiro Spera, membro do grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o cacau tem propriedades relacionadas à regulação de humor, além de ser um estimulante similar ao café.

A ação estimulante é causada pela teobromina, um "parente" da cafeína que também pode ser encontrado no guaraná. Já a regulação de humor é derivada de outras substâncias presentes na fruta: o triptofano, que é um precursor da serotonina (neurotransmissor conhecido como "o hormônio da felicidade"), e a feniletilamina, o "hormônio da paixão", que também está relacionado a emoções como alegria, euforia e excitação.

Segundo Spera, a sensação de bem-estar proporcionada pelo cacau ainda pode estar ligada a um terceiro componente da fruta: os flavonoides. Entretanto, o especialista alerta que a relação não é um consenso entre os profissionais da área.

— É preciso ressaltar que o potencial dessa substância de estimular a neuroplasticidade, que é a capacidade do neurônio de se comunicar com outros neurônios, ainda é algo teórico — explica.

O neurologista afirma ainda que o grau do efeito das substâncias do cacau na regulação do humor também são uma incógnita para a ciência, e alerta para os riscos do uso da fruta como um tratamento para quadros de doenças como depressão.

— Alguns estudos apontam que a quantidade de triptofano produzida naturalmente pelo organismo já é suficiente para produzir quantidade adequada de serotonina, e que a deficiência não está necessariamente relacionada a uma redução dessa substância — explica.

Outra crença difundida é que comer cacau pode ser positivo para tratar depressão, demência ou Alzheimer.

— A resposta que eu te dou é: não. Não há indicação de que realmente possa funcionar nesse aspecto — alerta.

Benefícios nutricionais e como aproveitar o cacau ao máximo

A nutricionista Priscilla Primi, colunista do GLOBO, afirma que o consumo de cacau pode trazer diversos benefícios para o organismo, principalmente para o sistema vascular, e isso se deve às propriedades antioxidantes presentes na fruta, como fitoquímicos e polifenois, além dos flavonoides.

De acordo com Primi, os benefícios do cacau incluem:

  1. Diminuição da pressão arterial
  2. Relaxamento dos vasos sanguíneos, previnindo inclusive coágulos sanguíneos
  3. Aumento da produção e bactérias boas para o intestino
  4. Regulação dos níveis de colesterol
  5. Redução do dano celular

Entretanto, os benefícios podem não valer a pena quando são acrescentados outros componentes ao cacau.

O ideal, segundo Primi, é consumir produtos 100% cacau, mas afirma que quem não se acostumar com o gosto da fruta (que é bem diferente da barra tradicional de chocolate, mais macia e açucarada), pode optar por começar por versões mais saudáveis, mas ressalta que é importante manter uma alimentação variada.

— Quanto maior a porcentagem de cacau, maior a concentração de substâncias benéficas, mas a recomendação para ter uma boa saúde e qualidade de vida é adotar uma alimentação variada, rica em alimentos in natura e minimamente processados e evitar ao máximo os ultraprocessados — afirma.

Por isso, é importante verificar bem os rótulos de chocolates para verificar se a lista de ingredientes não traz uma extensa sequência de aditivos e itens de nomes complicados, o que caracteriza um alimento considerado ultraprocessado.

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