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Mensagem do advogado Iruman Contreiras

28 setembro 2025

Exportações brasileiras crescem após tarifaço, mas incertezas ainda preocupam

 


Passado o primeiro mês desde que os Estados Unidos impuseram as tarifas mais altas do mundo sobre produtos brasileiros, a economia nacional mostrou capacidade de resistência. A pancada de Trump foi amortecida por um cenário externo favorável. As exportações nacionais cresceram levemente em agosto, sustentadas por uma demanda global insaciável por alimentos, minérios e outros recursos abundantes no país.

Embora comemorado pelo governo federal, o alívio neste primeiro momento está longe de garantir que a economia daqui não vai sofrer. Setores muito dependentes das vendas aos americanos, aliás, já estão acumulando prejuízos e não há ainda muita clareza do que virá. “A participação dos Estados Unidos nas nossas exportações não é tão alta, e o impacto na economia é restrito”, afirma Rafael Cagnin, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Os americanos respondem por 12% das vendas externas brasileiras, e o efeito direto do tarifaço representa apenas 0,2% do PIB, segundo cálculos de economistas. “Mas não significa que não existam muitas empresas expostas ao mercado americano, e são elas que mais sofrem”, acrescenta Cagnin.

Um exemplo é o da produção do mel, atividade de centenas de pequenos proprietários e altamente dependente das vendas para os Estados Unidos, que compram 80% do que o Brasil produz. “O consumidor daqui não tem o hábito de comprar mel, então não conseguimos escoar internamente tudo o que produzimos”, diz Janete Dias, gerente da Comapi, cooperativa que reúne 300 famílias da cidade de Simplício Mendes, no cerrado do Piauí. Todos os anos, a entidade embarcava oito contêineres cheios de mel destinados ao mercado americano. Para Mauro Cavalcante, apicultor associado da Comapi, a atividade representa a totalidade da renda da família. Caso as encomendas da próxima safra, prevista para outubro, deixem de existir, o plano é recorrer a outros cultivos, como feijão e mandioca.

A tarifa de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump está em vigor desde 6 de agosto e atinge de forma semelhante apenas dois países: Brasil e Índia. Apesar de prever algumas exceções, a medida incide sobre centenas de itens da pauta exportadora brasileira — de carne, pescados, café e mel a máquinas e móveis. Juntos, esses produtos supertarifados representam 35% das vendas do Brasil aos Estados Unidos, segundo cálculos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

AJUSTE - Fábrica de calçados: descontos para garantir vendas


O impacto imediato foi uma queda de 19% nas exportações brasileiras para o mercado americano em agosto, em relação ao mesmo mês do ano anterior, considerando a receita em dólares. No entanto, as vendas para o restante do mundo avançaram 4%, puxadas por mercados como China e países vizinhos na América Latina, que ampliaram as compras de petróleo, soja, milho e carne — todos com crescimento superior a 10%. “Nós vendemos para mais de 150 países, a demanda global continua aquecida e os nossos competidores já não têm carne para oferecer”, afirma Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes. Só para os Estados Unidos, os embarques de carnes diminuíram 46% em agosto, para 37 milhões de dólares. A retração, porém, pouco afetou o setor: no total, as exportações de proteína cresceram 56% no mesmo período, somando 1,5 bilhão de dólares.

A capacidade de redirecionar vendas não se repete com a mesma velocidade em outros setores atingidos pela tarifa de 50%. No caso de máquinas e equipamentos, que estão entre os bens de maior valor tecnológico exportados pelo Brasil e cujo principal cliente externo são os Estados Unidos, as vendas de agosto recuaram 10%. “Cada mercado exige adaptações, certificações e requisitos técnicos específicos”, diz Patrícia Gomes, diretora-executiva de comércio exterior da Abimaq, associação que reúne os fabricantes de bens de capital. O mesmo ocorre na indústria madeireira, outra área altamente dependente do mercado americano. “Não é simplesmente desligar uma tomada nos Estados Unidos e ligar em outro país”, afirma Paulo Pupo, superintendente da Abimci, entidade representativa desse setor que destinava metade da produção aos compradores da América do Norte.

Com as exportações reduzidas pela metade em apenas um mês, o setor madeireiro já cortou 4 000 dos 180 000 trabalhadores, segundo a Abimci, enquanto outros 6 600 estão em férias coletivas ou afastados temporariamente. Em outra área, para evitar desligamentos, a Frescatto, marca de pescados com operações em vários estados, passou a conceder descontos a clientes americanos, tenta direcionar parte da produção ao mercado interno e busca novos compradores na Ásia. Os Estados Unidos respondiam por 60% de suas vendas externas. “O problema é que outros mercados pagam menos e, no Brasil, o consumo de pescado ainda é baixo”, diz o presidente da companhia, Thiago De Luca.


APETITE - Frigorífico: mesmo com tarifa, exportações de carne cresceram 50%

Na indústria calçadista, o robusto mercado interno, que absorve 85% da produção, ajuda a amortecer os impactos. Mesmo assim, muitas fábricas especializadas em modelos exclusivos para marcas americanas sentiram o golpe de forma devastadora. Para manter contratos, prevaleceram negociações com descontos de até 15%, o que permitiu salvar parte das encomendas. Ainda assim, em agosto o setor embarcou 17% menos pares para os Estados Unidos. “Em muitos casos, o preço ficou abaixo do custo, mas é melhor do que perder o cliente”, afirma Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.

Para os empresários, o pacote de socorro do governo funciona como um alívio, mas está longe de resolver o problema. Batizado de Brasil Soberano, o programa oferece crédito com juros reduzidos, além de adiamento e diminuição de impostos para exportadores que perderam vendas aos Estados Unidos. “A solução de longo prazo depende do diálogo entre os governos”, afirma Patrícia Gomes, da Abimaq. Na terça-feira 23, um encontro casual entre Lula e Trump, nos corredores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, trouxe expectativa de alguma reversão do quadro: o presidente americano sinalizou, pela primeira vez, a possibilidade de uma reunião com o brasileiro. Nada está formalizado, e ninguém sabe o que esperar de uma conversa entre os dois líderes. Ainda assim, foi a notícia mais animadora desde o anúncio do tarifaço. Agora, as empresas esperam que a diplomacia abra caminho para que os Estados Unidos retomem o papel de parceiro essencial do Brasil.

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