Por Hieros Vasconcelos
Há seis meses, o Rio Jequitinhonha corre livre sob uma ponte que parou no tempo. Desde maio, o tráfego de veículos pesados está proibido na travessia que liga Itapebi a Eunápolis, no extremo sul da Bahia — um eixo vital da BR-101, a espinha dorsal que conecta o Nordeste ao Sudeste. A interdição, provocada por problemas estruturais, transformou o cotidiano de caminhoneiros, empresas e turistas em um verdadeiro labirinto rodoviário. O desvio mais curto, pela rota da Veracel, soma 451 quilômetros. É um percurso exaustivo, caro e perigoso. E o que era para ser uma medida emergencial tornou-se símbolo de um abandono que corrói, junto com o concreto da ponte, a confiança de quem depende das estradas para viver.
Enquanto o DNIT promete estudos e intervenções sem prazo definido, a realidade já cobra o preço. Caminhoneiros enfrentam jornadas três horas mais longas, fretes encarecidos e desgaste de veículos. Moradores de cidades vizinhas relatam que o comércio local encolheu, o turismo perdeu fôlego e municípios inteiros — como Itapebi, Eunápolis e Itagimirim — sentem o peso de uma economia que não passa mais por ali. Para eles, a ponte do Jequitinhonha é mais que uma estrutura de aço e concreto: é um elo entre o agronegócio baiano, o polo industrial de Camaçari, os portos de Ilhéus e Vitória e o turismo que movimenta Porto Seguro, Trancoso e Caraíva. Quando ela para, parte do país estagna.
A BR-101, com seus 4.500 quilômetros ligando 12 estados, é a segunda maior rodovia do Brasil. Mas seu trecho baiano, um dos mais estratégicos, hoje retrata o que há de mais precário na malha federal: buracos, pontes interditadas e obras que não chegam ao fim. A interdição do Jequitinhonha acendeu um alerta sobre o colapso da infraestrutura viária, agravado pela falta de manutenção contínua e pela lentidão das respostas do governo federal.
Caminhoneiros que transportam grãos, madeira e combustíveis relatam aumento de até 30% nos custos operacionais. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), cada hora adicional de trajeto representa uma perda significativa na rentabilidade do frete. E os reflexos vão além dos balanços financeiros: cidades inteiras que dependiam do movimento diário na BR-101 hoje veem postos de gasolina vazios e restaurantes às moscas. “Não tem caminhão, não tem cliente, não tem venda”, resume o comerciante de Itapebi, Jurandir Oliveira.
Com a aproximação do verão, o impacto para o turismo é gigante. Segundo especialistas, o bloqueio da ponte cria gargalos para o fluxo de visitantes vindos de Minas Gerais e Espírito Santo — dois dos principais emissores de turistas para o litoral sul da Bahia. Agências de viagem relatam cancelamentos e desinteresse crescente diante do aumento das distâncias e do risco de engarrafamentos nas rotas alternativas.
Representante - Em entrevista à Tribuna da Bahia, a deputada estadual Cláudia Oliveira (PSD), que representa o extremo sul baiano, fez um diagnóstico detalhado da situação. “De fato, a interdição da ponte sobre o Rio Jequitinhonha tem causado enormes prejuízos e transtornos à população do Extremo Sul. Reconhecemos que se trata de uma
obra complexa, que exige estudos técnicos, laudos estruturais e medidas de segurança. No entanto, o impacto regional é muito grande, e a população tem sentido de perto as dificuldades na mobilidade e no transporte de cargas”, disse.
Ela acrescentou que tem cobrado ações emergenciais do Ministério dos Transportes e do DNIT, inclusive em reuniões com o governador Jerônimo Rodrigues e o vice-governador Geraldo Júnior. “Também tenho acompanhado a situação do desvio utilizado atualmente, defendendo a necessidade de uma pavimentação adequada, especialmente nas áreas mais íngremes, para garantir segurança aos caminhoneiros e condutores. O projeto de pavimentação desse desvio está sendo realizado pelo CONDESC, o que representa um avanço importante para melhorar as condições de tráfego enquanto as obras da ponte não são concluídas”, explicou.
Sobre os impactos econômicos e sociais, a deputada destacou que o aumento do percurso e dos custos de transporte afeta diretamente o turismo e a competitividade da produção regional. “Os impactos são significativos. Há aumento nos custos de transporte, encarecimento de insumos agrícolas e perda de competitividade da produção regional. O setor do turismo também sente os reflexos, especialmente em cidades que dependem do fluxo rodoviário. É uma situação que atinge toda a cadeia econômica do Extremo Sul, reforçando a importância de soluções estruturantes e investimentos permanentes em infraestrutura de transporte”, afirmou.
Segundo a parlamentar, o caso da ponte evidencia uma necessidade urgente de manutenção preventiva contínua. “Muitas vezes, a carência de investimentos regulares acaba resultando em situações emergenciais, como essa. O governo federal tem buscado ampliar o volume de obras estruturantes e retomar contratos paralisados, mas é essencial que o planejamento e a manutenção preventiva sejam permanentes. Assim, evitamos prejuízos e garantimos mais segurança à população”, disse.
Nova audiência será realizada ainda este mês na Assembleia Legislativa
Enquanto a ponte não é reaberta, ela defende que o DNIT mantenha o desvio alternativo em condições adequadas, com pavimentação, sinalização reforçada e acompanhamento técnico. A deputada Claudia Oliveira defende ser importante a comunicação constante com os municípios afetados. “Assegurar que todos acompanhem o andamento das obras. Continuaremos atuando junto aos órgãos competentes, com diálogo e cooperação, para que a região volte a contar com uma infraestrutura segura e compatível com sua importância econômica e turística”, concluiu.
No último dia 28 de outubro, a situação da ponte voltou ao centro dos debates na Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Deputados baianos reforçaram a gravidade dos problemas nas principais rodovias federais do estado, em especial nas BR-101, BR-116 e BR-324.
Na ocasião, a deputada Cláudia Oliveira destacou a urgência de intervenções do DNIT e o impacto direto do fechamento da ponte no turismo e na economia regional. Já o deputado Eduardo Salles anunciou que enviaria um ofício aos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Renan Filho (Transportes) solicitando solução rápida para os
problemas nas rodovias, lembrando que a situação atual exige medidas paliativas até que a nova concessão das BRs seja emitida no próximo ano.
Além disso, Cláudia Oliveira lembrou da audiência pública programada este mês, que discutirá a extração de minerais utilizados na produção de energia limpa e os impactos para a região, reforçando a necessidade de diálogo transparente e planejamento sustentável.
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